sábado, 7 de agosto de 2010

Maratona

Certo. Agora respire fundo.
É da sua vida que estamos falando.
Isso. Estique os braços e as pernas.
É para o futuro que estamos nos preparando.
Olhe ao redor e veja se algo incomoda.
Não? Ok. Que começe a corrida!

Corre, corre, não olhe pras pessoas.
1, 2. 1, 2. Não falta muito.
Só o caminho de uma vida toda.
Respira. Respira.
Não perca o ritmo, não acelera.
vai sentindo o seu corpo,
não esquece que nessa vida corrida
seu adversário é você.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Nada a ver com amor

Os primeiros carros já estão
dando profundos roncos na minha porta
As conversas da última noite,
doentes com a falta de fundamentos,
ainda estão escritas no meu chão

E não parece justo
Que as suas palavras maléficas consigam me segurar
Não, não parece certo
Tomar informações
Dada a curta distância
Para a mordaça,
A atadura
E a munição

As conversas, que já tiveram um pouco de estima,
Se tornaram diálogos como o esboço de um jogo por sangue
Tirei umas férias, minha boca ficou limpa
Agora posso sentir o gosto de sua programação
Enquanto você rumina

E não faz sentido
Eu cair na arte de reinar de um rei desmerecido
Não, não parece certo
Tomar informações
Dada a curta distância
Para a mordaça,
A atadura
E a munição

Isso não tem nada a ver com amor
Pois não estou apaixonada
Na verdade eu não consigo parar de me "desapaixonar"
Isso não tem nada a ver com amor
Pois não estou apaixonada
Na verdade eu não consigo parar de me "desapaixonar"
Eu sinto falta daquela dor estúpida

"Qual é essa atitude que tenho que encarar?"
Foi o que ele disse quando eu me comportava
Mudou o nome do jogo quando ele perdeu
Ele sabia que estava errado mas era tarde demais
Mas não estou sendo justa
Pois escolhi ouvir aquela boca imunda
Mas eu gostaria de escolher o certo
Pegue todas as coisas que eu disse que ele roubou
Coloque-as num saco
Jogue-as sobre meu ombro
Viro a direção dos meus passos
Sair dessa visão
Tentar viver numa luz mais amável

terça-feira, 25 de maio de 2010

O choque do frio foi tão grande que rapidamente retirei os pés do chão.
O coração disparou um pouco, era só frio. Levantei e andei.
Dessa vez o corredor me pareceu tão mais comprido e haviam mais portas.
A cor das paredes e o jeito das portas eram outros. Não parecia a minha casa, mas eu me sentia lá.
O frio também tinha se modificado, só o sentia por debaixo da camisola.
Quando olhei para trás vi um espelho quebrado. Eu não sabia que no corredor de casa havia um espelho. Voltei e não tive a minha imagem refletida no espelho.
O coração disparou, era susto.
Quando estiquei os braços os pedaços do espelho se derreteram ao chão. Saltei para trás. Não tive medo.
Não posso dizer quanto tempo passei me olhando, de cima, pelas gotas de espelho caidas.
Havia uma porta nova, que surgiu depois derretimento. Senti as pontas dos dedos dos pés. Estavam roxas de frio. Abri a porta e entrei.
Que lugar era esse que eu não conhecia? Não sabia dos quadros na parede. Nem quem eram as pessoas pintadas neles.
Prendi os cabelos. Senti necessidade de me arrumar.
Tropecei, ao dar um passo pra frente, e caí. Ralei o queixo no chão.
Senti o áspero do tapete cortar a pele e se esfregar na carne macia do queixo.
Gritei um "ai" mudo. O coração disparou novamente. Não era dor.
Fiquei no chão. Virei de costas e estiquei os braços. Não reconheci as tatuagens. Eram maiores e mais coloridas. Tomavam ambos os braços. Gostei delas e sorri.
Dobrei os joelhos e me senti confortável alí. Abri as pernas e gostei do vento gelado que passava por entre elas chegando até o queixo. Fechei os olhos.
Abri os olhos e já estava em pé. Percebi que não estava deitada, mas encostada na parede. Desencostei, desconfiei e me encostei novamente. Fechei os olhos.
Abri os olhos e já estava deitava novamente. Vi que todos os pêlos do corpo estavam arrepiados. Furei o dedo ao toca-los. Pareciam agulhas. O coração disparou, era dor.
A gota de sangue manchou o branco da camisola. Fechei e abri os olhos. De pé, sai daquele lugar.
Parei no corredor. Vi que o sangramento havia parado, mas a mancha na camisola aumentava mais e mais até tomá-la por inteiro.
O coração disparou. E parou.

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Vai, toma, pega...
está aí a prostituta com as pernas abertas!
Você pode ter e fazer o que quiser
mas nunca saberá como ela ama.
Os amores e as vidas que ela vive,
esses,você ainda não pode viver.

Pega, toma e vai...
é pra isso que ela serve,
bocas, gemidos e curvas
são de quem quiser levar
mas os beijos, suspiros e sonhos não.

Toma vai...vai embora...
prostituta de um só ela é.
"prostitui-se longamente...um por vez."
(é isso que ele pensa dela)

mal sabe ele da vida...

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Solo

A necessidade era constante.
Orkut, Facebook, msn e emails.
Conferidos repetidamente como a reza de um terço.
Um terço do dia dedicado à isso todo dia.
Quem ele tanto espera ou procura?
O quarto vazio, a casa solitária me explicaram.
Todos que faltavam estavam atrás daquela tela.
Pessoas amadas, pessoas interessantes, desconhecidas...
Era o acesso ao mundo impalpável, inabraçavel, inbeijável, invisivel.
Era um escape, o alívio.

A necessidade era constante.
Ele tinha que se fazer atraente.
Palavras difíceis, frases de efeito e links interessantes...
Falava sozinho, criava o seu mundo,
Dormia virado para a parede sempre imaginando alguém respirando ao lado.
Mas do lado, em cima da mesa, entre alguns livros, estavam os ausentes.
Só presentes virtualmente.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

na terceira pessoa e no gerúndio infinito do tédio

Naquela segunda morna e cinza ela acordou ao meio dia. Sentou-se na cama, conferiu as horas no celular e sem escandalizar-se colocou os pés no chão e ficou em pé. Os pensamentos já estavam lá, do outro lado da cidade, a imaginar o que ele estaria fazendo e, mesmo não sabendo exatamente o quê seria, teve a certeza que não era o mesmo que ela.
Fez um chá de maçã sem açúcar e comeu uns biscoitos de maisena com chocolate. Sentiu vontade de não falar com ninguém e ouvir somente músicas menos agitadas e todos os pensamentos daquele dia. Ela sabia que isso não seria possível o dia todo, pois havia comprometido a sua noite, mas decidiu realizar a tal vontade enquanto pudesse.
Aquele começo de tarde, que lhe parecia manhã, estava exatamente como ela se sentia. Dentro de si não se sentia preenchida por grande alegria e felicidade, porém não havia tristeza e dor tocando em alguma parte do seu coração. Ela não sabia definir o sentimento, apenas sabia que algumas coisas poderiam ser diferentes. Pensou nas diferenças e, como haviam milhões de possibilidades, decidiu meditar no que de fato acontecia e em como se sentia.
Começou a escrever sobre o seu amor. “Uma combinação de sentimentos forma o amor...“ Pensou. Imaginou o casamento que pretendiam para o começo do próximo ano. Preocupou-se com todos os detalhes e, racionalmente, deixou essas preocupações para os dias certos.
Pensou novamente no amado. Tentou imaginar esse dia cinzento sem a existência dele em sua vida, e estremeceu sentindo um nó na garganta sucedido de uma leve sensação de relaxamento por lembrar-se de que ele existia sim em sua vida e em como a cada dia ele conquistara todos os cômodos do seu coração.
Recordou todas as segundas solitárias que já viveu sem imaginar que seria possível amar novamente. Trouxe à luz a vontade de choro que sentia todos os dias ao perceber o quanto sua vida era solitária e vazia, mas sorriu entendendo que aquele passado só a preparou para viver esses dias acompanhando o rapaz que havia entrado e aberto as janelas do seu coração e deixado a luz e o calor do amor entrar.
Outras coisas passaram a incomodar os pensamentos e fizeram-na sentir uma leve dor no estomago. A maioria eram coisas muito profundas por isso negou-se a continuar pensando. O relacionamento com sua mãe era uma dessas coisas, e também o mais difícil de fugir, não havia a possibilidade de apenas não-pensar, pois a mãe se fazia presente na casa. Perfurava o silêncio dos seus pensamentos, tirava a serenidade e trazia para dentro uma irritação que fazia com que ela sentisse a cabeça quente, o estômago azedando e as mãos dormentes. Ela não queria fazer mal à mãe, muito menos revidar as provocações, queria ficar a sós com os pensamentos e não sujeitar-se às suas injustiças. Procurou ignorar todo aquele incomodo e fechou-se mais ainda em seus pensamentos ajudada pela melancólica música que ouvia. Por um instante pensou no violino que estava encostado na parede que estava na sua frente. Um barulho de panelas caindo na cozinha e um esbravejar da mãe a trouxe novamente a todas as sensações causadas por ela que por conseqüência a fez esquecer-se do que pensava sobre o violino.
Voltou a escrever a crônica que havia começado e que não sabia como terminar, ouviu o barulho de um caminhão passando na rua e achou engraçado o fato do som combinar com a música que estava ouvindo.
Uma série de acontecimentos a tiraram violenta e bruscamente de seus pensamentos, o acesso à internet a distraiu e a intermitente interferência da mãe impediram o silencio. Mas depois de tudo veio-lhe por email o tédio. Pensou e entendeu que era essa pesada palavrinha de 5 letras e todo o marasmo que seu significado trás que a afligia todas as segundas-feiras.
Tentou terminar o texto, mas não pode. Ficou sem fim, assim como o tédio semanal...

domingo, 19 de julho de 2009

este, não mais só

Agora, ao descobrir que tenho pelo menos um leitor, me senti (não necessariamente) obrigada a fazer existir no mundo cibernético os pensamentos que, até então, só existiam, no máximo no meu bloco de notas...